Sinergias: Educação e Saúde de Mãos dadas
Nos trilhos do desenvolvimento observamos dois processos da vida humana que se relacionam entre si e que se traduzem na sua essência, na esfera da Pedagogia e da Saúde. Ambas se envolvem num caminho de evolução saudável de um Ser humano em Crescimento.
Curar e Ensinar são processos de experimentação e de vivências que se correspondem entre si. A capacidade de aprender está directamente relacionada com a condição de vida saudável que cada ser em desenvolvimento apresenta ao longo do seu crescimento.
A doença surge assim, como uma tarefa imposta ao organismo, em que a solução implica sempre uma aprendizagem físico-orgânica, sendo característica de um organismo saudável combater e superar episódios patológicos, amadurecendo e fortalecendo todo o organismo.
“Alegrias são dádivas do destino
que revelam seu valor no presente;
sofrimentos, pelo contrário,
são fontes de conhecimento
cujo significado se revelará no futuro”.
Rudolf Steiner
Antes do 10º ano de vida a criança ainda não tem a capacidade de elaborar o conceito de doença de forma consciente, será função importante do adulto acolher, apoiar e compreender com sentido e respeito a sua dor, assumindo assim, essa tarefa de cuidado e segurança.
O adulto que acolhe em sua consciência, absorvendo o sentimento que a criança ainda não consegue assumir, apoiando e elaborando, promove em grande parte, o “remédio” que sustenta todas as dores, o AMOR , que tem uma valência universal e é composto por pelo interesse real e caloroso, pela pessoa que estamos a ajudar, solidificando a sua confiança no Mundo!
A confiança é um dos maiores aliados para o crescimento saudável e harmonioso. Com compreensão, aprendizagem e crescimento transformamos as nossas fragilidades e inseguranças acolhendo em plenitude e perseverança as adversidades que nos assombram. Quando relacionamos a actividade da criança e a sua vontade própria, o seja, com o seu Eu, a concepção da doença transforma-se , em simbiose com tudo o que sentimos. As emoções podem ter um efeito harmonizador sobre a regulação térmica do organismo. A circulação sanguínea e o aporte de sangue aos diversos órgãos reagem com sensibilidade aos sentimentos e pensamentos em conjunto com os movimentos corporal e à nutrição. O nosso organismo térmico no seu todo funciona como sendo o suporte físico do nosso ser, e assim, qualquer doença expressa-se através da alteração do organismo térmico.
O prazer e a vontade intensa do Eu, exercem um efeito estimulante no organismo térmico, a par de sentimentos positivos (amor, coragem, entusiasmo), estimulando assim, a imunidade, ao contrário de sentimentos de Stress, ansiedade, desânimo, pessimismo, medo,depressão que debilitam e fragilizam todo o sistema imunológico.
“A febre – Fogo inato de energia Vital”
O calor da Febre serve como força motivadora para o desenvolvimento, nutrida pela energia vital do corpo para tratar do organismo durante a doença, é uma reacção natural do sistema imunológico do organismo a infecções ou à tensão. Não é em si mesma uma doença,mas um estimulante e um meio para promover esse sistema. Ao longo dos vários estudos e pesquisas conclui-se que a febre causa a produção e libertação de certos elementos químicos, que combatem as infecções no nosso organismo. O aumento de temperatura corporal cria também um ambiente hostil para o desenvolvimento de organismos patogénicos que, em grande quantidade podem gerar doenças graves. Quando procuramos simplesmente eliminá-la, estamos não só a confundir os instintos do nosso corpo, como também a retirar a capacidade de examinar e de confiar na natureza mais subtil e poderosa do nosso organismo, interrompendo o processo de activação das defesas do corpo que são desencadeadas pela febre.
O efeito da febre no corpo físico é similarmente comparável a um bom processo pedagógico, em que a criança em autonomia e liberdade, aprendeu algo através do seu próprio esforço e empenho. A elevação da temperatura corporal é “necessária” para intensificar a actividade metabólica de toda a musculatura da criança,sendo causada por uma diminuição da irrigação sanguínea; estruturando desta forma a sua constituição física e orgânica. É então um processo em favor do qual, uma parte do cérebro, o hipotálamo, recebe informações sobre a etapa orgânica e envia ordens adaptadas à situação, lutando contra os invasores. Segundo André Lwoff (co-prémio Nobel do Instituto Pasteur), “a febre é o melhor remédio. Acima de uma temperatura de 39,5º, a maioria dos vírus é inibida e destruída”.
Respeitar a febre, tentando encontrar as razões dessa hipertermia, na revelação de uma acção orgânica que se está a manifestar, permitindo ao Hipotálamo (parte do cérebro que regula a temperatura corporal) , regular a altura da febre em função das necessidades, mas também as possibilidades actuais de defesa do organismo. Quanto mais as defesas imunitárias são poderosas, mais a temperatura pode ser elevada e mais intensa é a luta contra os adversários.
Quando o Hipotálamo ou certas zonas nervosas foram alterados por tóxicos, medicação, vacinação administrada previamente à manifestação de um episódio de febre, a reacção orgânica pode ser ela própria inadequada, e ser a responsável por determinadas desordens e/ou desequilíbrios ao nível do sistema imunitário.
Se de forma natural fomos respeitando e controlando a febre, a experiência comprova que, esta conduz rapidamente ao restabelecimento da saúde sem risco de recaída, sem complicações e garantindo um fortalecimento acrescido da nossa imunidade.
Baixando a Febre sem efeitos Colaterais
Procurando uma Paz Terapêutica, aprenderemos a captar com o máximo de subtileza possível as necessidades psicossomáticas do nosso Ser, não agredindo, respeitando as suas mensagens que vamos reconhecendo, cada vez melhor subtilmente, estando atentos aos sintomas, sinais e “vozes de alarme”, durante o nosso crescimento.
Perante um episódio de febre, quanto melhor a criança se sentir, mais eficazmente o seu organismo se restabelecerá de forma espontânea a integridade das suas estruturas e das suas funções, assim poderemos aconchegar a criança , tranquilizando-a e em repouso, favorecendo o silêncio, não estando exposta ao frio, beber água ou chá de cidreira, tília, camomila, alfazema (podendo ser utilizada esta mistura a cada 2 horas), ajudando a prevenir a desidratação, a baixar e estabilizar a temperatura, combatendo a infecção e ajudando a resolver tensões e processos interiores, encontrando a calma que necessita para recuperar.
Infusões eficazes para baixar a febre:
- Infusão de folhas de hortelã-pimenta e flores de sabugueiro: 1/2 colher de sopa de cada num vidro ou jarra de um litro cheio de água a ferver; tapar e deixar em infusão durante cerca de 20 minutos. Coar, adoçar com mel se necessário, e dar o mais quentinho possível ( é habitual a criança começar a suar de seguida).
- Infusão de erva cidreira: 2 colheres de sopa por um litro de água
Mães que estejam a amamentar poderão ingerir estas infusões e os benefícios passaram para os bébes.
Evitar beber sumos de frutos e/ ou fruta durante a febre devido à acidez, massajar na zona do plexo solar, com uma mistura de óleo de Jojoba ou girassol e óleo essencial de Lavandula Angustifolia. No caso de necessidade de baixar e controlar a febre de forma mais sistemática poderá ser uma boa opção, um banho com água cerca de 3º graus mais fria do que a temperatura do corpo, e/ou ir aplicando um paninho morno da testa, têmporas, punhos e na parte de trás do pescoço, assim como, rodelas de limão na planta dos pés e na parte de trás das pernas. Diluir umas 4 gt de óleo de Lavandula numa colher de sopa de leite de aveia, misturar numa bacia de água morna e com uma esponja ir aplicando no corpo da criança.A alimentação deve ser muito leve, caldo de legumes, verduras, sopas de miso, comidas mais pesadas contribuem para aquecer o organismo.
Em casos de febre associada a alguma infecção, a equinácea e o propolis é um excelente aliado para reforçar o sistema imunitário( diluir umas gotas em água e beber ao longo do dia). A vitamina C pode também dar um bom contributo na superação da doença (250mg a 500mg) duas vezes por dia.
Permanecendo em repouso a criança poderá dormir, recuperando as suas energias para o seu bem-estar, evitando que a doença se complique e que surjam recaídas, causadas pela recuperação incompleta. Por vezes apenas é necessário uma pequena pausa no estímulo e ritmo das actividades externas, como a escola, actividades físicas , garantindo uma boa nutrição, repouso, hidratação, presença e atenção, deixando a febre seguir o caminho naturalmente, de modo a potenciar a cura do organismo. O corpo será então o resultado da acção conjunta entre as leis actuantes na Natureza e as leis da Vida anímica e espiritual do Ser Humano.
Assim como a atividade do Eu exerce seu efeito no organismo através do calor e a vida dos sentimentos através do Ar, os processos vitais individuais manifestam-se no elemento líquido, e o corpo físico, no elemento sólido, podendo assim, o ser humano manifestar a sua essência de forma diferente, consoante o seu temperamento e sua relação ao calor. Existem assim quatro contextos que actuam de forma individual em cada Ser:
- Contexto das leis das estruturas Sólidas– Corpo físico que proporciona a forma e a estrutura.
- Contexto das leis das funções que actuam no elemento líquido – “Corpo Vital” ou “Corpo etérico”– dá suporte às manifestações de vida, assim como, o funcionamento regular e a evolução do tempo.
- Contexto das funções que actuam no ar- “Corpo anímico”ou “Corpo Astral”– garante as expressões anímicas e a capacidade motora individual, assim como, as manifestações da consciência.
- Contexto das leis das funções que actuam pelo calor –“Organização do Eu” -responsável pela intensidade e o desabrochar da vontade como portadores do espírito humano individual. (Steiner)
Os remédios e terapêuticas naturais têm vindo a ser utilizados ancestralmente, sendo a base de todas terapêuticas medicinais e funcionam sempre como um reforço e apoio nos principais transtornos da infância que ajudam a reestruturar, elaborar e individualizar certas áreas do corpo. Em simbiose a pedagogia e a medicina deverão actuar em simultâneo, criando e favorecendo as condições para que estas leis sejam respeitadas de forma integral.
Para que a nossa expressão aconteça em plenitude, estruturada em valores elevados e acções positivas, deveremos proporcionar uma educação para a empatia e autoconfiança, assumindo a responsabilidade e o compromisso ao longo do nosso processo de crescimento individual e realização interna em cooperação e fraternidade para connosco e com o Mundo.
Mara Nunes (Psicopedagoga)